Quando passo em frente de uma escola de Torres Novas é frequente ver meninos e meninas a saltar pelas grades porque não estão para se dar à maçada de entrar e sair pelos portões. Claro que é uma minoria, mas mal sabem estes pobres-diabos que à mesma hora em que estão a dar o salto, num sinal de desordem e de indisciplina, outros fazem a sua vida normal de trabalho. E serão estes que no futuro irão conduzir aqueles como rebanho.
Acontecem cada vez mais casos de professores, por esse país fora, que ao fim de uns dias de aulas, (há casos de apenas de algumas horas), não suportando a má criação, nem a indisciplina, deixam o lugar de trabalho preferindo enfrentar o desemprego.
Sempre e em todo o lugar houve irreverência e casos de mau comportamento por parte dos jovens. Lembramo-nos todos do que fizemos quando passámos pelos bancos da escola. É normal, é próprio de quem está em crescimento e a interiorizar normas sociais. O que não é normal é a impunidade com que se praticam actos de destruição e de indisciplina. Tudo se consente e tudo se permite. Não há regras nem limites. E assim não estamos a educar nem a formar para a vida. A escola não pode ser um espaço onde a agressividade reina sem freio mas onde se aprende a convivência e o gesto fraterno da aceitação.
Mas, com isto, não se pense que os casos negativos são a regra. As situações em que os jovens participam em tarefas criativas, em que demonstram um sentido de colaboração e de valorização do trabalho são a vida normal das escolas. Basta estar atento ao número de iniciativas e à acção de professores e de alunos.
Ainda há poucos dias a Sociedade Velha Filarmónica Riachense, na Escola Maria Lamas, surpreendeu um pequeno auditório com uma notável actuação. E todos os músicos eram jovens, alguns ainda crianças, a desmentir os velhos do Restelo que vão dizendo que os jovens de hoje não se empenham em nada de sério.
Num tempo em que as palavras tanto se desvalorizam e perdem o sentido, a Filarmónica de Riachos, num breve serão, levou-nos a fazer uma viagem pela beleza da linguagem universal que é a música, numa execução em que tudo estava profissionalmente cuidado. (Ah, Maestro, a Carmina Burana, tão difícil e que nos inebriou e comoveu!). É impossível não ficar preso ao movimento instrumental, à concentração daqueles rostos ainda tão jovens mas capazes de nos arrebatar com o gesto criador. É por aqui a estrada, é este o caminho.
Aqui temos um sinal, um acontecimento cultural, que nos diz que não é só nos grandes centros que podemos usufruir da boa música, da arte. E diz-nos mais que há uma salvação para o futuro, porque há jovens – apesar de alguns – que o estão a construir.
13 de Novembro de 2009. Etiquetas: Eduardo Bento.