19 abril 2012

O Poeta Torrejano do Mês


ABRIL [ António Lúcio Vieira]


Era já alvor a liberdade

Era quase a vida, quase a voz

Era um rio em cheia quase foz

Brandos ventos feitos tempestade


E foi alevantado este meu povo

Gente viva, erguida agigantada

Era um tempo velho feito novo

Tempo aceso luz na alvorada


Aí nasceu esta ânsia de nascer

De novo neste chão por amanhar

Chão regado a pranto e a sofrer

Chão de medos, chão de tanto esperar

E das noites algemadas de morrer

E das horas avisadas de acordar

Que eu sou do povo que então quis saber

Quanto de si o povo sabe dar


E sou também desta terra feita

De cravos, de soldados e canções

Da pátria onde me deito e onde se deita

A giesta que moldou mil gerações


E sou o filho e sou também irmão

Dessa gente que já vive na memória

Sou da noite de escrever libertação

Com a pena do poeta coração

E as musas de inventar a nova história


E era assim o dia a madrugar

No sangue e no fio de uma espada

Esperança tanto sonho embainhada

Olhos tanta noite a vigiar

E as lágrimas que correram tanto mar

E as vozes que rasgaram tanta estrada

E as armas onde a flor se viu plantada

Não eram mais as armas de matar

Que o povo tem no peito e na raiz

A seiva da floresta libertada


Aqui e era Abril e era amar

Estava a renascer o meu país

Quando se alvorou a madrugada