«TELEGRAMA SEM CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL»
- Ao Egito Gonçalves - ANTÓNIO RAMOS
ROSA (1924-2013)
ESTAMOS NUS E GRAMAMOS.
Na grama secular um
passarinho verde
canta para um poema lírico, para um poeta lírico,
que se nasceu
é certo que não cantou.
canta para um poema lírico, para um poeta lírico,
que se nasceu
é certo que não cantou.
As paisagens continuam a existir.
As paisagens são suaves.
Continuam também a existir
outras coisas
que dão matéria para poemas.
A vida continua.
Felizmente que há ódios, comichões, vaidades.
A estupidez, esta crassa crença intratável, esta confiança indestrutível em si mesmo
é o que felizmente dá uma densidade, uma plenitude a isto.
As paisagens são suaves.
Continuam também a existir
outras coisas
que dão matéria para poemas.
A vida continua.
Felizmente que há ódios, comichões, vaidades.
A estupidez, esta crassa crença intratável, esta confiança indestrutível em si mesmo
é o que felizmente dá uma densidade, uma plenitude a isto.
Num mundo descoroçoante de
puras imagens
é bom este banho de resistências, pressões, vontades. atritos,
é bom navegar.
Porque este presente é logo saudoso.
é bom este banho de resistências, pressões, vontades. atritos,
é bom navegar.
Porque este presente é logo saudoso.
Na grama um passarinho canta.
Evidentemente que o poeta suicidou-se.
Evidentemente que o poeta suicidou-se.
A vida continua.
Certas coisas que pareciam mortas
estão agora vivas ou, pelo menos, mexem-se.
Ausentes, dominam-nos.
Não é para nós que utilizam as palavras,
que insistem,
não é para nós!
Estes grandes ornamentos, estes sábios discursos
fluem em visões, em ondas, como se não no presente.
Ter-se-á o presente extinguido?
A vida continua tão improvavelmemte.
Certas coisas que pareciam mortas
estão agora vivas ou, pelo menos, mexem-se.
Ausentes, dominam-nos.
Não é para nós que utilizam as palavras,
que insistem,
não é para nós!
Estes grandes ornamentos, estes sábios discursos
fluem em visões, em ondas, como se não no presente.
Ter-se-á o presente extinguido?
A vida continua tão improvavelmemte.
Na grama um passarinho
canta.
Canta por cantar, ou não, canta.
Canta por cantar, ou não, canta.
Eu poderia, com rigor,
agora
cantar:
cantar:
Os anjos exactos
que empunham tesouras
de encontro aos factos
- ó minhas senhoras!
que empunham tesouras
de encontro aos factos
- ó minhas senhoras!
Ou rigorosamente ainda,
com veemente exactidão,
inutilizar o poema,
todos os poemas
porque
com veemente exactidão,
inutilizar o poema,
todos os poemas
porque
Estamos nus e gramamos.
(4 de Janeiro de 1952 in
«Árvore» - 4)
O FUTURO
Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente
Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente
Depois da tempestade há a bonança
que é verde como a cor que tem a esperança
quando a água de Abril sobre nós cai.
que é verde como a cor que tem a esperança
quando a água de Abril sobre nós cai.
O que é preciso é termos confiança
se fizermos de maio a nossa lança
isto vai meus amigos isto vai.
se fizermos de maio a nossa lança
isto vai meus amigos isto vai.
Ary dos Santos